sábado, 10 de setembro de 2016

Centurion Weekends - Rock Progressivo Italiano ( parte 1 )




   A Centurion Weekends inicia a partir de hoje uma série, que promete explorar o vasto mundo da peculiar e riquíssima cena do rock progressivo italiano, objeto de desejo de muitos amantes do estilo. Para tanto, contamos com a generosa contribuição de nosso amigo e colaborador Luis Fernando Rios.




   O rock progressivo italiano possui características muito fortes e peculiares. Sua origem tem raízes na influência do rock progressivo inglês de medalhões como King Crimson, Pink Floyd, Genesis, Yes, Emerson, Lake And Palmer e também do não tão medalhão Van der Graaf Generator ( seu líder Peter Hammil era uma espécie de messias pelas terras italianas). O estilo era bastante popular por lá em comparação aos outros lugares da Europa, o que contribui para que surgisse um número gigantesco de bandas. Seu ápice seu deu entre os anos de 1971 e 1977. Muitos críticos afirmam que a cena teve início oficialmente com o lançamento do álbum " Collage" do Le Orme.

   Aliado a influência do rock progressivo inglês e de elementos comuns ao estilo, como composições de longa duração, músicas com arranjos e estrutura atípica e complexa, longas improvisações jazzísticas e etc,  podia-se verificar também a forte influência da música clássica, contribuindo para moldar o som de bandas como Banco Del Mutuo Soccorso e Premiata Forneria Marconi. Além disso, mais do que em qualquer outro lugar, as influências regionais eram fortemente captadas: a tradição do melodrama, bem como elementos de poesia, literatura e folclore italiano. Outro detalhe importante era a presença das letras cantadas em italiano.

   Durante o seu auge, a política tomava parte no cenário da música italiana, já que o país atravessava um momento turbulento. Eram os chamados " Anos de Chumbo". Muitas das bandas estavam ligadas aos movimentos políticos, enquanto outras apenas intencionavam tocar sem interesses mais profundos.

   Não demorou muito e o rock progressivo italiano ganhou imensa popularidade. Cada vez mais bandas foram surgindo e isso acabou se tornando um problema para o mercado, que não foi capaz de absorver tanta produção em tão pouco tempo. Apesar de a maioria dos conjuntos serem muito bons e possuírem ótimos instrumentistas, muitos apresentavam grandes dificuldades em lançar seus discos. As gravadoras não davam conta de tanto volume. Muitos discos ficaram pelo caminho e deixaram de ser lançados, enquanto outras bandas só seriam reconhecidas décadas depois. A partir de mais ou menos 1977, muitas destas começaram a sucumbir. Músicos brilhantes em início de carreira com grande potencial de se transformar em futuros ícones do rock, simplesmente tiveram que abandonar tudo e buscar outros caminhos. A decadência destas bandas passa também pela ascensão do punk rock e na mudança geral do gosto musical do público.

   A partir dos anos 90, aos poucos o estilo começou a ressurgir, tendo como base o interesse de apaixonados e colecionadores do gênero. Certos selos especializados fizeram relançamento de obras clássicas, chegando em alguns casos a lançar material inédito composto ainda nos anos 70, como é o caso do segundo álbum da banda Biglietto Per L`Inferno. A partir disso, boa parte das finadas bandas encontraram estímulo para se reunir, enquanto outras novas começaram a surgir [ em uma proporção bem menor] e o estilo segue vivo até os dias de hoje no meio underground.

   Iniciaremos então nossa viagem pelo vasto e rico mundo do progressivo italiano. Nessa primeira parte, falaremos do gigante PFM.


   Premiata Forneria Marconi ( PFM)

   


 
 
    O Premiata Forneria Marconi, também conhecido como PFM, é tido como o conjunto mais famoso e bem-sucedido da cena progressiva italiana. Os músicos Franco Mussida ( guitarra), Franz Di Goccio ( bateria), Flavio Premoli ( teclados) e Giorgio Piazza ( baixo) integraram as banda I Quelli e I Krel. Eram músicos de sala  muito requisitados por artistas famosos da Itália e destacavam-se por sua elevada técnica instrumental. Tão logo esta técnica os fez procurar por um estilo musical mais refinado e mais próximo da sinfonia e da ópera lírica. Assim, desta feita, gravaram um compacto de 45 rotações. Quando estes quatro músicos conheceram o flautista e violinista Mauro Pagani, foi formado enfim o PFM. O nome foi escolhido inspirado no nome de uma padaria na cidade de Chiara, em Brescia, frequentada por Pagani.

   Virtuosismo, técnica, improvisações e elementos clássicos eram a base das primeiras composições da banda, que sofria influências de King Crimson, Jethro Tull e levemente de Pink Floyd.

   O primeiro álbum da banda, " Storia Di Un Minuto" ( 1972) teve um grande sucesso de crítica. No final de 1972, saiu o segundo, " Per Un Amico", com uma música mais complexa e elaborada. Foi então que em 20 de Dezembro daquele ano, durante um concerto em Roma, o ilustre baixista/ vocalista do Emerson, Lake And Palmer, Greg Lake, os conheceu e encantado pelo seu som, decidiu levá-los para Londres, à sede da gravadora Manticore, ao encontro do então letrista e poeta do King Crimson, Peter Sinfield.

   Sinfield encarregou-se então de traduzir parte da obra da banda para o inglês. Foi dele também a decisão de reduzir o nome da banda para apenas PFM. Em Janeiro de 1973, Franco Mussida e seus companheiros, voltaram à Londres, para gravar o seu primeiro álbum internacional: " Photos Of Ghosts", uma edição em inglês de " Per Un Amico", com a inclusão de " È Festa" do debut que se transformaria em " Celebration" e de " Il Bancheto", com seu idioma original preservado. " Celebration", num formato mais reduzido e palatável que sua forma original, foi escolhida acertadamente como single pela gravadora, alcançando um enorme sucesso radiofônico.

   O estouro do single, somado à uma apresentação de sucesso no festival Reading, fez com que " Photos Of Ghosts" entrasse no hit-parade britânico, além dos charts da Billboard americana. A banda rodou a Europa após isso, para logo depois, alcançar o êxito de excursionar em longa turnê pelos EUA, durante período de promoção de seu terceiro álbum " L`Isola Di Niente" [ The World Became The World, na versão inglesa]. Tal excursão gerou o primeiro disco ao vivo, " Cook".

   Fiz questão de tratar mais minuciosamente esses momentos da história para justificar o sucesso todo alcançado pelo grupo fora da Itália. A discografia do grupo é gigante ( cerca de mais de 20 álbuns, incluindo os ao vivo) e repleta de álbuns icônicos. Para não me estender tanto, vou deixar abaixo, algumas recomendações valiosas de álbuns que não podem passar batido por qualquer fã de progressivo italiano. Destaco como imprescindíveis os dois primeiros " Storia Di Un Minuto" e " Per Un Amico", além do ao vivo " Cook ( Live In USA)"
                                       

                                          PFM - Storia Di Un Minuto ( 1972)


 

                                          PFM - Per Un Amico ( 1972)




                                          PFM - Cook/ Live In USA ( 1974)

 


     Outras Recomendações:      

. Chocolate Kings ( 1975) - primeiro álbum originalmente em inglês pela banda com o vocalista Bernardo Lanzetti

 .Come Ti Va In Riva Alla Città ( 1981) - ótimo álbum mostrando um lado mais pop anos 80, mas com imensa qualidade  

.Dracula ( 2005) - projeto paralelo de ópera-rock com influências na obra Tommy do The Who

.Stati Di Immaginaziona ( 2006) - Álbum no qual o grupo toca e improvisa através da execução de alguns vídeos. Todo instrumental.
                                               

                                 




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